Carta Mensal de Cenário Econômico - Setembro/23
Artigo postado originalmente no meu linkedin, neste link.
Ibovespa no vermelho
O grande destaque do mês de agosto de 2023 foi a queda do IBOV. O índice da bolsa brasileira fechou no azul em apenas quatro pregões do mês e acumulou uma desvalorização de 5,09%.
Juros para baixo, Bolsa para cima?
O resultado do Ibovespa surpreendeu muitos investidores que ainda não são acostumados com uma característica muito comum do mercado financeiro, o "sobe no boato, desce no fato".
O corte da meta Taxa Selic da reunião do Copom de agosto de 0,5% foi maior do que o esperado pelo mercado, mas mesmo com a Selic em 13,25%, o que vimos foi um mês muito negativo.
O Mercado Financeiro é feito de expectativas futuras e o corte da Selic, mesmo que sendo de 0,5% já era uma expectativa do passado. Por isso, acontece o efeito de queda mesmo quando o ocorre o fato. No mercado, falamos que a queda dos juros "já estava precificada".
Os principais players já estão olhando para outros problemas futuros e operando de acordo com estas projeções.
Quais são os drivers para o Ibovespa nos próximos meses?
Mercado Externo
Não se engane, o principal driver para o crescimento brasileiro ainda é o mercado dos EUA e o da China. Se o mercado americano, principalmente, subir, aumentam as chances de bons resultados no Ibov.
Como demonstrei na carta do mês passado (acesse aqui) a taxa de juros americana está em um ponto mais dentro da normalidade histórica. Existe uma possibilidade grande da taxa não voltar a ser próxima a zero como nos períodos pós-crise de 2008 e da Covid.
A economia está se mantendo aquecida mesmo com a taxa nos níveis atuais. A recessão esperada não veio. A inflação cedeu, mas menos que o esperado, e os dados de emprego também continuam forte.
O S&P 500 caiu -1,77%. A desconfiança com o mercado americano apareceu junto com um aumento nas taxas de juros de longo prazo dos EUA.
Junta-se a isso, um crescimento chinês sendo revisado para baixo pela maioria dos analistas. No mês de agosto a bolsa chinesa caiu -5,2% e mostrou uma saída de 12 bilhões de capital estrangeiro.
Apesar da maioria das análises serem pessimistas para a China e EUA no mês passado, existem algumas análises com boas perspectivas como a apresentada pela casa de análises canadense Gavekal no podcast abaixo:
Cenário interno
Como demonstrei na análise deste link, a bolsa brasileira depende do crescimento da bolsa americana para subir, mas somente quando conseguimos fazer o mínimo do nosso "dever de casa".
O Cenário brasileiro do mês de agosto foi muito parecido com o dos EUA em todos os aspectos, inclusive nas curvas de juros.
As taxas de juros longas subiram devido às incertezas que do mercado. A grande dúvida agora é o quanto a Taxa Selic pode cair.
Soma-se a esta dúvida todas as incertezas com relação aos gastos do governo e qual será o tamanho do déficit das contas públicas.
No lado positivo, temos o crescimento do PIB brasileiro.
Dúvidas de cálculo a parte, a Economia brasileira cresceu 0,9% entre o primeiro e o segundo trimestre, número bem mais alto do que as expectativas, que estavam entre 0% e 0,3%.
O que fazer?
Com tudo que tenho lido no mercado, vejo poucas mudanças no último mês. Quem tem muitas certezas parece estar sofrendo, e muitas dúvidas permanecem.
Ainda é válido achar títulos de renda fixa de inflação com um rendimento real aceitável, mas sempre com preferência aos títulos com vencimento curto. Vale também considerar posições em fundos imobiliários "de tijolo".
Não vejo razão para saída de bolsa. O mantra "never bet against America" pode ser válido e nada impede uma melhora dos mercados com um ciclo de commodities ajudando a nossa bolsa.
Deveríamos ter mais medo se estivessemos em um mercado estável.
Vi uma citação ao economista Hyman Minsky esta semana que venho a concordar:
A estabilidade econômica gera instabilidade. Períodos de prosperidade dão lugar à fragilidade financeira.’
Pelo que vejo, estamos em um momento de instabilidade, trazendo mais oportunidades do que preocupações para mim.