O melhor investimento do ano pode ser o pior para você

Atire a primeira pedra quem nunca foi viciado em uma rede social. Minha geração foi a pioneira. Lembro de como era divertido teclar com amigos em grupos do mIRC, ICQ e no moderno e revolucionário Orkut.  

Há cinco anos atrás, resolvi fazer um detox das redes, saí do Facebook e parei de acessar o meu Twitter e LinkedIn. Antes de sair das redes, senti uma ansiedade gigantesca achando que ficaria excluído do mundo. Fato que não ocorreu, me senti mais focado e menos ansioso. 

Nos últimos dois anos acabei retornando com força ao LinkedInTwitter e ativei uma conta no Instagram com o objetivo de passar conhecimento sobre economia e mercado financeiro às pessoas. 

Este retorno fez com que eu passasse a sentir na pele e com mais consciência o FoMO (fear of missing out), distúrbio psicológico moderno que tem ganhando a atenção dos estudiosos. 

Como até o prêmio Nobel já demonstrou a importância da parte psicológica nos movimentos econômicos premiando estudos de Richard Thaler e Daniel Kanneman, gosto de demonstrar como comportamentos como esse também podem influenciar suas decisões financeiras. 

O QUE É O FoMO? 

O FoMO (fear of missing out) já ganhou tanta notoriedade que em 2013 entrou para o dicionário Oxford que o definiu como: 

 “Ansiedade de que um evento excitante ou interessante pode estar acontecendo em outros lugares, muitas vezes estimulado por postagens vistas nas redes sociais.” 

 Podemos ver outra definição neste estudo

 "A sensação desconfortável e incomoda de que você está perdendo algo - que seus colegas estão fazendo, conhecendo ou possuindo mais ou algo melhor do que você" 

O QUE O FoMO TEM A VER COM MEUS INVESTIMENTOS? 

O mundo financeiro sempre tem um investimento da moda, é comum recebermos rankings com os melhores rendimentos do mês, semestre e ano. O maior fenômeno dos últimos anos foi o investimento em Bitcoins.  

No segundo semestre de 2017 só se falava em Bitcoin e em criptomoedas. Blogs, fóruns, amigos e a mídia divulgavam ele como um investimento infalível e milagroso. Rapidamente, comecei a sentir ansiedade por não investir nesta moeda.  

Essa ansiedade é exatamente o FoMO aplicado aos investimentos.  

Nosso psicológico tende a nos trair nestes momentos, eu sentia que era o único “trouxa” que não faria parte deste crescimento. Todos ficariam ricos e eu ficaria de fora.  

COMO SUPEREI O FoMO? 

 A verdade é que os Bitcoins não encaixavam em meu planejamento por vários motivos: 

  1. Acredito que o momento de entrada em ativos de risco é em momentos de queda e não de alta.  

  2. Minha análise apontava que ele estava mais perto de cair do que de continuar a subir. 

  3. A parte da minha carteira dedicada a ativos de renda variável já estava no limite. 

  4. Não era momento de se desfazer de um ativo em minha carteira que estava barato pelos meus cálculos para comprar outro que eu considerava caro. 

Identifiquei o sentimento, olhei para o meu planejamento e mantive a minha racionalidade. Inclusive escrevi este artigo sobre os Bitcoins nesta época. 

Consegui me manter sereno mesmo com o Bitcoin subindo de 897% entre julho e dezembro de 2017. Acompanhei investidores com menos experiência e conhecimento do que eu “ganhando” muito dinheiro sem ansiedade.

A decisão acabou sendo correta, desde dezembro de 2017 o Bitcoin desvalorizou 66% e eu provavelmente estaria no prejuízo se tivesse seguido a cabeça de outras pessoas. 

NÃO COMPARE O SEU PLANEJAMENTO FINANCEIRO 

 Assim como você não deve se medicar utilizando os exames de saúde de um amigo seu, você não deve comprar investimentos seguindo o planejamento de outra pessoa, seja ela o Warren Buffet ou seu amigo. 

Estudos como este sugerem que as redes sociais aumentaram a probabilidade de compararmos nossas vidas com outras.  

Gosto de lembrar que as pessoas tendem a divulgar apenas seus resultados positivos. Você não vê as pessoas divulgando fotos de sua depressão no Instagram, e pode ter certeza que elas não divulgarão o prejuízo de suas carteiras no twitter ou em algum fórum. 

O Planejamento Financeiro é algo muito pessoal, somente você e seu assessor de investimentos podem dizer se algo é bom ou não para você. O investimento imperdível para o seu amigo, pode não ter nada a ver com seus objetivos e sua carteira. 

Não tenha medo de ficar de fora de um investimento campeão de rendimento no passado. Como Montesquieu já disse uma vez: 

“Se alguém apenas desejasse ser feliz, isso poderia ser facilmente realizado; mas desejamos ser mais felizes do que as outras pessoas, e isso é sempre difícil, pois acreditamos que os outros são mais felizes do que são.” 

Se quer ajuda para começar um Planejamento Financeiro que deixe você “blindado” do FoMO, leia os artigos abaixo: 

Artigo publicado originalmente no blog.guideinvestimentos.com.br.